Em um ambiente psicologicamente seguro, em que todos os membros da equipe têm liberdade para se expressar sem medo de serem julgados, conversas sinceras não são conversas difíceis. A liderança pode trazer argumentos críticos à equipe sem medo de perder o posto, assim como o grupo também pode realizar o movimento inverso, entregando ao líder más notícias, compartilhando opiniões contrárias e também dando feedbacks. Quando tudo isso não acontece, as consequências podem surgir a longo prazo para todo o time. Confira em nosso artigo quatro tópicos sobre o assunto, incluindo o porquê não adiar o próximo feedback!
O papel do líder
Quem está em um cargo de liderança naturalmente tem uma chancela mais formal e por vezes uma sensação maior de segurança, permitindo movimentos mais sinceros para com o seu time sem medo de represálias. Contudo, quando a equipe também pode ter conversas sinceras com o líder sem receios de punição, isso é um claro sinal de maturidade e pode ser encarado como um indicador de performance. Nos dias de hoje, o movimento inverso ainda é difícil de existir nas equipes porque muitos líderes não dão abertura para diálogos sinceros com receio de colocar sua autoridade em cheque ou mesmo de se mostrar vulnerável.
O líder, com o objetivo de estimular um ambiente psicologicamente seguro e trazer mais liberdade ao time, precisa entender que opiniões contrárias sempre vão existir. Elas podem trazer desconforto quando expressas, mas cabe às lideranças aprender a lidar com as críticas, valorizar essas conversas sinceras quando realizadas, transformando-as em algo produtivo para si e para as equipes (leia mais sobre segurança psicológica aqui).
Consequências do adiamento
Em um ambiente sem segurança psicológica para agir, líderes e liderados vão encontrar mil motivos para adiar uma conversa sincera: desde o clima até o humor da equipe podem influenciar no “momento certo” para se falar. Mas a verdade é que adiar um retorno para a equipe só traz consequências negativas.
Por exemplo, se um membro apresenta de forma ineficaz um relatório e seu líder posterga o feedback em várias oportunidades, a falta de diálogo traz resultados a longo prazo para todos. Após meses sem dar um retorno ao funcionário, oportunidades de melhorias no report foram perdidas, habilidades do funcionário não foram desenvolvidas e uma apresentação mediana ao cliente (ou ao time) foi feita mensalmente.
Outra consequência do adiamento é a falta de desenvolvimento de toda a equipe. O líder que adia um feedback não está desenvolvendo seu time. Ao contrário, quando uma conversa sincera é adiada, o funcionário acredita estar desempenhando um ótimo trabalho, mas se surpreende quando há um desligamento em razão das atividades desempenhadas. A equipe, acostumada com o padrão de entrega inferior, também tem sua produtividade em queda.
Conversas sinceras no trabalho remoto
Criar um ambiente psicologicamente seguro é desafiador na era do trabalho remoto. Ter conversas sinceras ainda mais. Líderes sentem dificuldade para fazerem críticas via chamada de vídeo e equipes precisam absorver retornos dados por e-mails. Também falta transparência e diálogo entre as equipes, segundo o relatório State of Global Workplace mais recente da Gallup. O estudo recente aponta que 38% dos trabalhadores não sabem quais são as principais prioridades da empresa ou como o trabalho desempenhado está vinculado a essas prioridades. E tem mais, 6 a cada 10 funcionários consideram o trabalho dos outros um verdadeiro mistério.
Essa falta de transparência pode ser justamente solucionada com conversas sinceras entre o time, ou seja, sessões para ajudar os membros a ligar os pontos entre as metas e tarefas individuais, entender quais os projetos estão rodando, além de objetivos e propósitos da organização.
Ampliando as conversas sinceras
Existem muitas formas de ampliar o diálogo com o time, mas o primeiro ponto é justamente mostrar o que são conversas sinceras e a importância delas. Uma sugestão, nesse momento, é falar sobre o termo empatia improdutiva, de Kim Scott, que refere-se a não ser direto na comunicação com alguém que nos importamos. Quando se trata de um feedback deixado de lado por medo de desagradar ou constranger, acabamos sendo prejudiciais e não contribuindo para melhorias. Além de falar sobre a empatia improdutiva, conversar sobre más notícias e a reação a elas, além de transparência, é essencial.
Outra dica para ampliar conversas sinceras é eliminar os termos elogio e crítica do dia a dia, pois eles acabam tendo conotações fortes e difíceis de se combater no ambiente de trabalho. O ideal é tratar a crítica como uma oportunidade de melhoria. Por isso, cabe muito ao líder mostrar à equipe como ser tolerante aos erros e como tornar esses erros aprendizados para todos.
Por fim, também é necessário o líder ser mais assertivo. Nossa sugestão é utilizar o modelo CORE, da autora Kim Scott, ao se ter uma conversa sincera com o time. O “C” está ligado ao contexto, situação específica; o “O” a observação, em que o líder deve descrever o que foi dito ou falado; o “R” sobre resultado, ou seja, a consequência; já o “E” está conectado aos próximos passos na resolução produtiva.